10/10/2011 | Turismo, história e gastronomia.


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Chegou às livrarias no último mês, editado pela EDUCS, o livro Turismo, história e gastronomia de Ana Maria de Paris Possamai e Rosana Peccini (Organizadoras). Leia a seguir o texto de apresentação da obra.



Os humanos, assim como as demais espécies, precisam de ar para respirar, água para beber e comida para se alimentar. Essas são as três necessidades básicas do ser humano e o tem acompanhado por toda a história.

O alimento sempre teve destaque na trajetória da evolução humana. Inicialmente, o homem praticava o nomadismo em busca de alimento, tornou-se sedentário quando aprendeu a cultivar o próprio alimento. Partiu em busca de novos continentes movido pela necessidade de buscar especiarias usadas na conservação dos alimentos, aprimorou a navegação, mesclou-se com outros povos em terras distantes e desenvolveu novas técnicas de plantio visando garantir o alimento. A falta de alimento motivou migrações, dizimou populações e sempre foi preocupação de reis e governantes ao longo da história.

Essa rápida reflexão revela a importância do alimento na história da humanidade, importância justificada pela necessidade de sobrevivência e perpetuação da espécie. Mas no decorrer dos tempos o alimento foi adquirindo características diferenciadas e transformou-se em elemento cultural. A arte de cozinhar e manipular os alimentos adquiriu diferentes modos de fazer em diferentes povos, dando ao alimento um caráter que vai além do fornecimento de energia ao corpo.

Em torno do alimento surgiram muitos estudos acadêmicos nas áreas da história, da sociologia, da antropologia, da nutrição, da economia e do turismo. Diante da amplitude o tema caracteriza-se como multi, inter e transdisciplinar. Considerando-se que o turismo não se restringe apenas ao deslocamento das pessoas, mas requer uma estrutura de apoio, pode-se dizer que o turismo nasceu da necessidade dos viajantes de usufruir alimento e local para descanso durante suas viagens, fazendo surgir casas de pasto, locais que ofereciam alimento e descanso. Embora de maneira bastante precária, esses espaços foram evoluindo e deram origem à hotelaria.  Nos dias atuais, seria impensável a atividade turística sem todo o apoio oferecido por hotéis e restaurantes em termos de conforto e praticidade aos visitantes.

Do simples suprimento de uma necessidade básica, a refeição evoluiu para um ritual de prazer e o alimento transformou-se em produto – a gastronomia. Profundamente ligada ao contexto cultural, a gastronomia tornou-se um forte atrativo turístico de diferentes destinos mundiais. O ritual de alimentar-se está diretamente ligado a sensações de prazer, dessa forma o turismo gastronômico propicia ao visitante o deleite da mesa aliado à descoberta de novos gostos e sabores. Na atividade turística o “turismo gastronômico” já é considerado uma modalidade forte e a gastronomia é indispensável ao turismo, pois mesmo os turistas que não viajam exclusivamente atraídos por ela, buscam, durante as viagens, conhecer e provar os pratos típicos dos lugares visitados.

Embora o tema seja de relevância para a atividade turística, percebeu-se que o Mestrado em Turismo da Universidade de Caxias do Sul não possuía nenhum trabalho que abordasse o assunto. Dessa forma sentiu-se a necessidade de produzir uma obra que contemplasse a amplitude do tema.
Turismo, História e Gastronomia: uma viagem pelos sabores pretende fornecer subsídios para ampliar os estudos das áreas que envolvem o tema alimentação. O aprofundamento do processo explicativo pelo viés da memória gustativa conduz a uma pluralidade de respostas, pois o tema tem várias entradas e muitas saídas. É isto que o torna amplo, denso e instigante, pois do cruzamento de vários saberes com a comida revela-se como espelho da sociedade.  Nesta publicação, o leitor encontra reflexões que vão desde as sensações promovidas pelo que é ingerido até a relação turismo gastronômico e pratos típicos, passando pela importância que um alimento pode adquirir para um determinado grupo social, associado à identidade de uma região ou mesmo de um Estado. Também se aborda brevemente a história do vinho, hoje considerado alimento pela legislação brasileira.  No sul do Brasil, assim como em outras partes do mundo, o vinho transcende o objeto para tornar-se elemento símbolo de festas e atrativo turístico.

Para finalizar, as organizadoras convidam a que acompanhem, na sequência, uma conversa com o Professor Doutor Carlos Roberto Antunes dos Santos sobre a História da Alimentação e sua relação com a cultura.

SUMÁRIO

Ingestões corporais e alterações sensoriais
Henrique S. Carneiro

Viagens, sabores e cultura: reflexões sobre os pratos típicos no contexto do turismo gastronômico  
Maria Henriqueta Sperandio Garcia Gimenes

As festas comunitárias como fator de preservação da cultura local: religião, gastronomia e turismo 
Ana Maria De Paris Possamai

A broa nossa de cada dia: memória e identidade das gerações curitibanas
Juliana Reinhardt e Victor Augustus Graciotto Silva

Churrasco, comida e emblema dos gaúchos
Maria Eunice Maciel

Para aguçar o paladar: discussões iniciais sobre a relação entre a alimentação e o espaço social
Pedro de Alcântara Bittencourt e Danielle Fernandes de Costa Machado

Galeto al primo canto: da colônia para a cidade a invenção da galeteria
Rosana Peccini

Uma história do vinho no Brasil
Vander Valduga

Enoturismo: contemplando vinhos, degustando paisagens
Hernanda Tonini

História e cultura da alimentação
Conversa com Carlos Roberto Antunes dos Santos


 

Universidade Federal do Paraná - História da Alimentação