07/03/2012 | Autora faz biografia de legumes.


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O que um legume tem a ver com a história da humanidade? As longas viagens percorridas por tomates, feijões, pimentas e couves não dizem respeito apenas à capacidade de adaptação desses alimentos pelo mundo afora. Conhecer a origem, os usos e a trajetória desses vegetais é descobrir, por exemplo, como o idioma e os recursos linguísticos, adotados por camponeses, determinaram a imagem desses ilustres personagens.

Quem nos conduz a essa aventura por hortas e pomares é a professora de Letras Modernas, Évelyne Bloch-Dano, no livro “A fabulosa história dos legumes”. A convite do filósofo Michel Onfray, a escritora começou a lecionar sobre legumes na Universidade Popular do Gosto, na cidade de Argentan, na França. A experiência resultou nesta obra rica em referências das artes, da literatura, música, poesia, cinema, história, genética e horticultura.

Dez legumes foram biografados por Évelyne, autora premiada de biografias como a de Marcel Proust. Não faltam citações do escritor francês, enaltecendo as hortaliças. Sobre a couve, ela escreve que “é um concentrado de memória afetiva, um alimento substancial para o corpo, mas também um legume que nos fala de uma terra, de uma região, de um passado, de uma história, um legume que se infiltrou até em nossa fala cotidiana”.

O tomate é retratado como exemplo de bravura. Levou dois séculos para se impor na Europa, e hoje é um dos legumes mais consumidos no mundo. Évelyne considera a trajetória mais apaixonante, mais fértil em marchas e contramarchas. Calcula-se que há hoje cerca de duas mil variedades de tomate no mundo.

A pimenta é a mais aventureira de todos. Viajou os quatro cantos do mundo e se tornou indispensável em todas as culturas. Utilizando a expressão “apimentar a sua vida”, a autora cita que pesquisas recentes comprovam o efeito estimulante no organismo. Os homeopatas a usam para combater a saudade da terra natal; e a farmacopéia chinesa, contra a depressão. Por ser fonte de beleza e alegria, ela atribui essas vantagens à dominação da pimenta.

A biógrafa adverte que apreciar os vegetais não é uma tarefa fácil, como abrir um pacote de biscoitos. “Ora, o legume exige que se ocupem dele. É preciso comprá-lo, descascá-lo, lavá-lo, cortá-lo, cozinhá-lo. Ele murcha, escurece, amolece, apodrece. Prepará-lo, cozinhá-lo requer um pouco de tempo, de atenção, de invenção. Mas é por isso mesmo que ele pode se tornar uma fonte de prazer e não um mero incômodo”.

No roteiro desses legumes, algumas histórias se repetem. Muitos eram desprezados pelas elites até vir a fome, foram motivos de desconfiança, causador de todos os tipos de males; exótico, afrodisíaco, medicamento. Por vezes o valor foi descoberto na mesa do camponês para depois frequentar as mesas mais abastadas em todos as épocas. Hoje, legumes esquecidos estão retornando à cozinha de chefs famosos. Eles são a estrela de cardápios como o de Alain Ducasse, Dan Barber e Alex Atala. Resgatar a história desses personagens é oportuna numa época em que cozinheiros se esforçam para extrair mais do que nutrientes, antes buscam proporcionar o prazer e explorar os sabores mais frescos para uma refeição memorável.

Redação Malagueta
Por Juliana Dias

Título: A fabulosa história dos legumes
Tradução do francês: Luciano Vieira Machado
ISBN: 978-85-7448-203-3
Editora: Estação Liberdade


 

Universidade Federal do Paraná - História da Alimentação