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"Tradição e Cultura: cozinha quilombola no Paraná" de Socorro Araújo.

Luana Camargo Genaro e Luisa Fensterseifer da Silva

A tradição e a cultura alimentar das comunidades quilombolas têm sido preservadas graças ao repasse dos valores e saberes ancestrais ensinados pelos mais velhos aos mais novos. É desta tradição dos remanescentes de quilombos existentes no estado do Paraná que Socorro Araújo foi atrás, e o resultado desta busca podemos encontrar em seu livro Tradição e Cultura: cozinha quilombola do Paraná, publicado em 2008 com o apoio da Secretaria de Estado da Educação do Paraná. O objetivo desse trabalho é justamente o registro das tradições dessas comunidades, com destaque para as tradições culinárias, que refletem uma parte importante dessa cultura, a fim de preservar, valorizar e multiplicar esses conhecimentos.

“A cozinha quilombola é um espaço de sociabilidade”, afirma a autora. Localizada geralmente do lado de fora das casas, essa cozinha é um ambiente carregado de valores culturais e sociais. Os fogões são feitos de barro, resultado de trabalho artesanal, e a maioria à lenha. São também fruto de atividades manuais outros objetos e utensílios de cozinha como mesas, cadeiras, pias, colheres de pau, cuscuzeiras, pilão, mão de pilão, recipientes para organizar os alimentos ou para sua conservação, representantes dos valores ancestrais que são transmitidos de geração em geração.

A autora nos brinda com uma série de receitas e com informações sobre diversos ingredientes que compõem os alimentos, sejam de consumo constante ou próprios de ocasiões especiais. Entre os doces, receitas de doce de mandioca, pão de ló, arroz doce quilombola; já os salgados, cuscuz de milho, quirera, queijo quilombola, carnes (boi, porco, galinha, peixe), feijão; as saladas, couve, abacate, samambaia; as bebidas, vinho de jatobá, chás, café de cana-de-açúcar, dentre tantas outras receitas. O preparo dos pratos, muitas vezes acompanhado de cantos tradicionais, traz consigo toda uma carga de significados que são repassados através das gerações. Mas antes de chegarem a esse produto final, os membros da comunidade já se encarregaram da plantação, cultivo e colheita dos ingredientes que serão utilizados na preparação dos pratos.

Socorro Araújo agrega ao seu trabalho uma análise da alimentação dos negros na África e explica de que maneira essa se integrou com os costumes alimentares dos indígenas e dos colonizadores, mostrando o quanto da herança africana se faz presente nos nossos hábitos alimentares. Os significados e a simbologia estão presentes nas mais diversas formas. Acompanhadas de belíssimas imagens, são resgatadas lendas, crenças e sabedorias tradicionais dessas comunidades, o que nos mostra a força da cultura quilombola que, apesar de ter sido sistematicamente desvinculada da história do país, resiste e reproduz seus conhecimentos nos dias atuais.

 

Universidade Federal do Paraná - História da Alimentação